Sob a lua oculta de novembro...

Ó, tu, mago que busca o entendimento das coisas ocultas sob a lua... nos sonhos, ouve a melodia da vida e da morte; a melodia obscura de teu coração...

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Eu? Apenas mais um andante solitário...mas todos os andantes tem uma ou outra lição a passar devida à sua intimidade com a estrada. A estrada é sábia. Embora seja certo que o caminho ainda segue muito à frente... quantas lições nos esperam?

Friday, January 27, 2017

O Grimório Oculto / Occult Grimoire




*** *** ***

Para aquele que busca segredos;
Para aquele que busca o poder;
Para aquele cuja ambição vale a vida,
e cujas habilidades são superiores:
Eis o caminho da luz e das trevas,
o caminho da lua e o sonho no céu.
Os espelhos trincados, convexos da alma
que refletem as cores, a fluidez
dos sentidos que se perdem no instante.

Ó tu, que busca a magia escura,
a voluptuosa precisão dos desejos
e a infinidade de noites sem luz:
As palavras que aqui correm são sangue, 

veladas sobre a morte e o túmulo,
nessa jornada inebriante do instinto e da glória,
da força que se oculta sob a tempestade.

Eis que, aquele que tem o conhecimento, que ouça
os cânticos sutis detrás das palavras mortas,
suspiradas por seres obscuros de asas negras,
mestres da chama que pulsa, fatal
para os imprudentes que ousam tocá-la
com leviandade.

A luz ondula nos doces campos,
sob fragrâncias matutinas suaves,
aguardando a brisa que as leve...
mas nada disso é para ti,
a luz do sol não penetra nas sombras
das valas profundas sob o chão;
As trevas se transmutam em horror
nas trilhas sem estrela ou luar.

Eis a estrada secreta trilhada
nos subterrâneos do mundo;
A jazida do início da vida,
a medida da perseverança sombria
e da vontade de aço solitária.

Umbral de terror para o fraco,
o dragão negro se levanta,
guardião do poder,
e escancara sua boca ao passante só.
Eternos e ocultos desígnios
os que pulsam além:
entrada para o nada,
para o tudo,
o túmulo no qual entras em vida.
Que farás, ao sentir dedos gélidos
tocarem-te o coração?
O medo é morte, a noite é sombra;
aceitarias pular sem regresso
para a escuridão?

Ó aspirante à magia,
lá estão as forjas sombrias,
o poder que foi moldado por deuses
e entregues às ilusões humanas;
A força institiva, amorfa, primordial
que fez surgir os séculos...

Queres ser teu próprio Deus?
Os desejos e ambições da alma,
os desígnios inconscientes
se realizarão no teatro do caos
e serás uma potência ao cair da noite.

Os deuses não te querem,
ó tu, que busca o poder:
a realidade é áspera.
Tomarás por si mesmo as linhas
de teu destino?
Moldadas de suaves fios negros,
elas se embaraçam e rompem
a todo segundo.
Queres partilhar do mesmo fim?
Então vence teu medo
assume tua carga
encara tua trilha,
e vai.

Toda pureza é destruída no equilíbrio,
ó nobre mago;
mas a verdade se encontra na escuridão,
a dança graciosa e final.
Ouve
a canção de ninar das trevas,
sua serenata no fluir da noite;
Sente
a perfeição da dança do caos
impregnada no coração;
Olha
o labirinto com suas mil formas
intrincadas em um torpor doce...

Ó, tu que ousa:
roubarias a chama do Olimpo,
e tornar-te-ia um demônio?


*** *** ***


* From the Book of the Abyss * 

Of Occult Pathways

For one who seeks secrets; 
For one who seeks power;
For one of lifelong ambition,
and with abilities superior:

This is the path of shadow's manse,
the way of the moon, dreaming the sky.
The soul’s convex, shattered lens,
reflecting all colors, a single time
as senses converge in the instant.

You, who seeks the dark magic,
the shapeshifting precise desires
through neverending unlit nights:
The words written here from blood,
- crafted over death withstood -
tell everlasting of instinct and glory;
of power hidden in heart's storms.

Those who have knowledge, hear
the subtle song behind dead words
whispered by black-winged shadows,
masters of living flame, but deadly
for fools daring touch it
without the intensity...

...

This the secret path, leading
to this world's deepest darks,
this the cause of life’s origins,
a measure of endurance stark
and of lone Will, unyielding.

Over sweet fields waves light,
as the soft fragrances of morning
fresh, gentle winds will cart...
Nothing of this is for you, seeker;
here where sun never reaches 
within earth's hollow deep...

Here darkness rises, in horror,
over trails lacking moon or star.
Here, the entrance to Nowhere,
to Everywhere, with no roads back:
a tomb, which alive you'll tread.

Here, dreaded gate for the weak,
where the black dragon growls:
The guardian to powers of old,
its jaws open for the Vagrant.
Quiet, feel the occult path
beating, beckoning beyond?

What shall you do, Seeker,
when you feel the coldest finger
touch your very heart in its grasp?
Fear death begets, night's shadow:
would you jump, or be regretful
towards its abyssal mouth?

O, seeker to magic,
there dark forges you'll find,
and godly crafted power,
invisible to human sight;
The amorphous ancient matrix
which sprung all ages forth...

Hey, dare you be thy own god?
The soul’s ambitions and desires
whisper unconscious purposes...
A play, and in the theater of chaos
you might become a potency
by nightfall.

Ever felt you are rejected by all, 
seeker of the forbidden and foul?
Dare you take then, for your own
the threads that destiny spins?
Black and soft, they intertwine
and rip each second they whim.

Want to share the meek's fate?
If not, past the corpse of fear,
there's a somber road to take;
Accept the weight you shall bear
for this choice, you have made!

All purity vanishes at balance,
but truth is found in the dark,
the gracious final dance.

Feel
the lullaby within the heart,
its serenade flow in the night;
Sense
the perfect chaos in the flame
that living you have aroused;
Gaze
the labyrinth eternal's change
connected to every thought.

O, one who dares:
would you steal Olimpus' flare 
and of thyself, a demon make?


*** *** ***


Sunday, May 31, 2015

Peregrino/Seeker



*** *** ***


"Buscando o invisível,
seu silencioso crescer;
Sonhando... é possível?
De um caos a nascer

(Para quê viver?)

Ansiando pelo inominável,
que transmuta, foge, some;
Sua sombra, alcançável
só pela mudança incessante

(trocando minhas peles...)

Profundo poço, atraindo
um mirar interno, sem fim
Estou olhando, caindo?
Real, ilusão outrossim?

(um abismo em mim)

Em pensamentos ressecados,
em sentimentos ardentes;
Nos dias correndo calados,
eu me imolo lentamente.

(o tempo devora... eu também)

Estações mudam, dentro e fora,
e no passado o futuro respira;
Procurando chama nova,
encontrando velhas cinzas

(estou queimando!)

Do anoitecer no fúnebre canto,
eu sangro, eu sonho, eu danço;
Aquele que desperta à matina
será esse eu ainda?

(...)

Sentir as marés sombrias
e resolver de mim o enigma:
À silente jornada infinita
sem temor entrego a vida.

(...é minha sina)"

_________


"Searching the unseen,
hearing the silence;
Ponder, what could’ve been
by not treading lightly.
.
(What to live for?)
.
Longing for the unnameable,
ever-changing, facets anew;
To grasp its fading tail
is to never stay still
.
(Shedding my skins)
,
Endless chasm, calling
To gaze down, within.
Am I looking, falling?
Is it what it seems?
.
(The abyss in me…)
.
As thoughts wither by,
draining emotions held;
As moons wane and rise,
I immolate myself.
,
(Time is devouring, so am I)
,
In and out, seasons change,
flying futures, bound in past;
Seeking bright flame,
finding dried ash.
.
(I am burning)
.
At night, dark fawns,
I die, I live, I bleed;
Who awakes at dawn,
Is it the same me?
.
(…)
.
To feel the deep dark tides,
to solve the riddle of self;
I shall live and I shall die
by this eternal quest.
.
(...this is my curse) "

*** *** ***

Monday, March 30, 2015

Styx



*** *** ***

"...nas silentes margens do ácido rio
[de almas mortas, de sonhos perdidos]
mais profundo adentra o peregrino
nos densos portões de seu vazio..."

_________

"...upon the silent shores, an acid river
[of dying souls, of broken dreams]
there the lone master treads ever deeper
to unlock the darkest gates within..."

*** *** ***

Veil























*** *** ***

Open the veils of yore,
a thousand deaths gist
they sleep in thy heart
within dense stygian mists..."

*** *** ***

Rompe os véus de outrora:
o âmago das mil mortes
teu negro coração chora
e de densas brumas recobre..."


.

Friday, February 13, 2015

Abismo



*** *** ***

"...em profundo vazio, ele sonha
visões do passado, visões do futuro
pensamentos perversos na sombra
criam abismos que sugam mundos..."

_________

"...deep in the void he dreams
of things past, of things to come...
dark thoughts shall seed ill deeds,
and creation drowns, its light is gone..."

*** *** ***

Iniciação


*** *** ***

"...eis que, sempre, me lembro
daquele treze, em dezembro
quando de espectros ao centro
no hipnótico breu respondendo...
~...és lobo, ou ovelha?"

_________

"...and I shall always remember
in that thirteenth of december
of hooded specters in center,
be asked in thy dark chamber...
~...are thou sheep or a wolf?

*** *** ***

Qayin


*** *** ***

"...fez Qayin em negro ódio vil rito
sua língua maldições proferindo...
para essa alma anjos negros levarem
para seus filhos o mundo tomarem..."

_______

"...he slayed a brother in sacrifice
and spoke the taught forbidden words...
for that soul never to reach paradise
for his progeny to rule the world..."

*** *** ***

Guardião


*** *** ***

"...guardião tu és, ó Exu perverso,
pelos perigos da noite tu guias
sobre as almas dos fracos tu pisas
e dormindo contigo teu filho, teu feto..."

__________

"...guardian thou art, O Exu the Wicked,
into the perils of the night thou shall lead,
stepping with us on top of the sleepers
to safeguard thy slumbering seed..."

*** *** ***

Gira

*** *** ***

"...Exus dançam gargalhando
por um mundo se adensando;
e sons sinistros alto cantam
pois toda a luz vão devorando..."

_________

"Exus dance, and laugh, and glee
for the world shall bow to thee;
songs forbidden they now sing
for all light is theirs to eat..."

*** *** ***

Ritual



*** *** ***

…nexos sem olhos assombrados por estranhos ângulos...
...camadas de luz dormindo sob tumbas esquecidas de espíritos imundos...
...glifo preso à serpente que tem tripas flamejantes como coroa...
...onde o inimigo impronunciável de tudo estende-se ao inverso...

...resíduos opacos, esqueletos rasos do Egkos...
...vórtex sugador com horrores nunca imaginados...
...reshit Ha-Gilglum rodopiando de volta ao antigo Caos...
...nexos sem olhos... 11 lamentações de Caim carbonizado...

...a semente do assassino interno cresceu: sigilo de Apophis incarnado eu me tornei...
...uma necrópole viva de escamas eu sou, de língua bifurcada e olhos consumidores...
...sussurrando o vazio, respirando mas morto, emitindo orações sem palavras de propósitos incontáveis...
...fazendo encantamentos distantes nunca pronunciados de vibrações bestiais sempre sonhadas...

...Senhor sem Nome, Acorde!

…quebrando as praias infinitas do Ain Soph Aur: transcendendo esferas desconhecidas de um Logos agonizante…
...revelação do plano divino em malformações horríveis...
...desvelada a Existência por aquilo que não é...

...Abominação da desolação...

...eixo de iniquidade no litoral do Tritrum: encruzilhadas pandimensionais de vida e morte..
...onde as águas primordiais de Sitra Achra fluem...
...e a criação sefirótica se afoga sob o vômito de Tiamat...

...labirinto de confusão e tormento de acurácia perfeita...
...almas embalmadas por palavras de sangue seco da boca dos mortos...


...abaixo do Olho Flamejante massas de vermes arranham os órgãos de Deus avançando com sua morte para o portão destrancado...

*** *** ***



…eyeless nexions haunted betwixt strange angles…
…layers of light sleeping under forgotten graves of foul spirits…
…serpent-bound glyph with a burning tripe as crown…
…where the unspeakable enemy of all extendeth backwards…
…sparkless residues, shallow skeletons of the Egkos...
…vacuuming vortex of never-conceived horrors…
…reshit Ha-Gilglum swirling back to ancient chaos…
…eyeless nexions…11 lamentations of the charred one chaim…
(Qliphoth)

…the abomination of desolation… (Gamaliel)

…whispering the void, breathing but dead, emitting wordless prayers of untold purposes… (Samael)
…raising distant incantations never spoken of bestial vibrations forever dreamt… (A’Arab Zaraq)
…the seed of the murderer inside has grown: incarnated sigil of Apophis I have become… (Golachab)
…a living necropolis of scales I am of forked tongue of gnawing eyes… (Gha’agsheblah)

…Nameless Lord, awake!

…axis of iniquity at the shores of the Trimtrum: pandimensional crossroads between life and death…
(Da'ath)

…where the primordial waters from Sitra Achra Flow….
…and the sephirotic creation drowns below Tiamat’s vomit…
(Satariel)

…maze of confusion and torment of flawless accuracy…
…embalmed souls by words of dried blood from the mouth of the dead…
(Ghaugiel)

…beneath the flaming eye struggling masses of worms scratch the organs of God deathwards the unlocked gate...
 (Thaumiel)

…breaking the limitless shores of Ain Sof Aur: transcending unknown spheres of a dying logos…
…revelation of the divine plan in horrible malformations…

…unveiled existence by what is not…


*********

Aeons


*** *** ***

"...dentre eons imortais caminhamos
em dores profundas sobre sangue derramado...
...mas mentiras sinistras pertubam teu sono
e diabos esculpem tua alma em pecado..."

_________

"...in deathless aeons we thread
blood of the past, the pain within,
as corrupted lies defile thy rest,
as devils carve thy soul in sin..."


*** *** ***

Watain



*** *** ***

"...de Exu o Tridente
luzindo no seio noturno
de profanações mormente
essência do fogo profundo..."

___________

"...the Exu`s tridents
ablaze in the night,
full of profane intents
carriers of darkest blight..."

*** *** ***

Dark Serpent


*** *** ***

"...in chaotic planes it slithers
coiling inside sinister trees
with skulls and wisdom for litters
suffering and strenght its fee..."

______

"...em caóticos planos deslizas
abraçando-te a árvores mortas
com sabedoria e crânios por crias
força e sofrimento tuas cotas..."

*** *** ***

Thursday, January 15, 2015

Maria Padilha da Kalunga



*********

"...Ó Padilha que na kalunga reinas
és bela, és necromante feiticeira;
meus inimigos tu drenas e matas
e de teu seio leite negro exalas..."

______________



"...O Kalunga's Padilha, hail thee,
O beautiful, necromantic witch;
dead my enemeies at your feet
you raise me with thy evil milk…”

*********
.

Saturday, January 03, 2015

Exu



"..em sombra e fogo tu reinas
as moradas da ígnea seiva;
e enquanto em nós tua chama arder
cinza e escuridão iremos trazer... "

______________



"...in shadow and flame thy reigns,
the houses of true power;
and as long in us your flame burns
ashes and shadow we shall deliver…”

.

Tatá Caveira



"...Pai caveira, seu é meu jurado
meu sangue pingando em pacto;
seja a morte silente meu manto
quando à eterna noite canto..."

_____________

"...father skull, yours is my oath,
my blood dripping in pact;
may silent death be my coat
into the neverending night..."

.

Friday, December 19, 2014

Do Livro do Abismo – Da Iniciação


********* 

As vias sem fim e sem nexo
emaranhadas prosseguem:
Ajoelha-te no vil deserto
e pede à morte que o leve;

Então te levanta
ergue tua voz rouca:
um uivo de força
uma canção nefanda;

E tua oração silente
reverberava e descia
porém o vento que batia
era gélido mas intente...

E eis que a senda infinita
ecoa um poder de outrora;
Reflexos de obscuras vidas
te olham com gosto agora

Erguem-se, em poder sinistro
essências de exus a dançar
a consciência rodopia em giro
e sangue derrama no altar;

O bode negro esperneia,
sua vida sacrificada;
deixa o sangue cobrir tua cara
e tua chama negra incendeia;

A oferenda está feita!
A alcatéia te espera,
já teu lobo negro espreita
tua vida aqui começa!

Deixe que os mortos guiem
teu pé, teu passo, tua mente;
Em tuas cabaças residem
teus mestres e serpentes...

*********

Monday, September 05, 2011

Do Livro das Ilusões – Da morte dos homens





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Das trevas saíste, ó impuro;
à luz, de sangue encharcado.
Quão sábio foi buscar a vida
sem saber que morreria?

Brotaste dos homens, uno;
em tenra idade, a costura
das mil agulhas de ilusões
te dividiram, te uniram
ao humano gado.

E bem e mal agora
para ti existem;
e verdade e mentira
estão na esquina;
a pureza e pecado
ali ao lado.

Sonhaste os sonhos
os quais te ensinaram;
Voaste com as asas
que te fabricaram.
E o tempo passa.

E te olhas no espelho,
mas quem é ti?
Que cores no mundo
tardaram a existir?

A chama que brota em ti,
os desejos mais profundos,
tudo se repete nos séculos
em ciclos de tédio.

Pois na árvore humana
brotos nascem sem cessar;
ainda assim, a vontade é una
e tu és parte da roda dos séculos.

E amas o mundo, mas já foi feito.
E repudias o mundo, mas já o fizeram.
E tuas idéias estão atrasadas;
Teus recordes, superados.
O tempo corre.

Que fazes aqui?
De tua glória, tua história,
de ti, não restará memória
no tempo profundo.

Às lanças da fé te jogas,
mas te perfuram sem cessar;
Às correntes do ceticismo foges
mas te prendem o andar.

As idéias se confundem
quando a morte espreita;
e o fim, que não tarda,
nunca vem;
O tempo voa.

E o sábio diz:
Viva.
Mas já estás preso,
costurado à morte.

Pois as agulhas prendem
e a prisão é dor;
E eis que a chuva arranca
os galhos sem valor.

O tempo à luz finda, para ti;
À treva, cai de dúvida pesado;
Quão sábio é viver na morte
Sabendo que morrerá? 

.
*********

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Friday, November 21, 2008

Do Livro dos Mistérios - De Homens e Anjos




*********

Ergue a fronte, ó estudante,
e creia ter sido enganado
por longos anos, por seus iguais.

As gerações se passaram, criaram
e se findaram; mas o erro vive
e revive a cada nascer.

Em tempos idos, no paraíso
de escravos, algo ocorreu;
Então a serpente, sábia,
restou culpada do que se deu.

A liberdade, dom dos mais caros,
dali surgiu; mas quão árduo
passar à liberdade o escravo!

(...)

Reflete, aspirante ao desconhecido,
sobre os sonhos de paz do homem;
Reflete sobre o sofrimento eterno
o qual a humanidade padece,
o qual à humanidade engrandece
e separa os fracos dos de valor.

Iguais se dizem os homens;
Não iguais perante à dor,
Não iguais perante a coragem,
Não iguais perante o medo,
Não iguais perante o amor.
Os homens se dizem iguais.

Quereis igualar os homens?
Suprimi sua liberdade,
ensina-os a obedecer
e nada questionar;
A se curvar, aceitar
e um limite a criar;
Ei-los, anjos sublimes!

E ti, seu senhor e deus,
arrebanha-os com palavras gentis,
e incita-os contra teus inimigos;
Tal é o sonho, e o mais amado,
o mais sonhado da história.

(...)

As hostes de Lúcifer, o Iluminado,
jazem repletas de dores; o escolhem
à vil ignorância, à cegueira imposta.

A vida surge, enfim, da maçã tragada;
a escuridão transmuta a semente
em continuidade de humana raça.

Eis o conhecimento, assim, assimilado;
mas noite e dia serão castigados
os que se aventuram a buscá-lo.

(...)

Escolhe, Homem!
Ou as veredas sombrias do conhecimento,
onde nada é certo, onde tudo é mortal;
onde o desconhecido sempre espreita;
onde a loucura e a solidão reinam e
as dores não conhecem cessar,
fustigando-o a avançar;

Escolhe, pois!
Ou pastagens verdes da obediência,
sempre vertendo leite, e mel, e água;
Onde o tempo não tem importância,
onde não há dúvidas ou desvios,
uma estrada reta e plana, a brisa suave
acariciando seus cabelos.

Escolhe:  és Anjo, ou Demônio?


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Wednesday, April 30, 2008

Do Livro da Noite - Cálice



*********

Ouça minhas palavras,
e as guarde bem, aspirante!
Acima a lua, pálida e sombria;
só aguarda aquele quem a desperte.

A escuridão é teu refúgio,
reflete o nada do antigo início.
Fita o manto negro que te cobre,
e oferece teu espírito em oferenda...

Ó noite, manto primordial,
fábrica de deuses e monstros!
De tão longe, teu mavioso canto
inspira aos gênios;
atormenta aos fracos;
oculta aos fortes;
e devora e mata os fogos diurnos...

Aspirante, escuta, aprende,
da união com o abismo,
e a construção da ponte
de teu oculto desígnio.

Pois, ergue a taça, ó mago,
em direção ao céu,
e conversa a sós com Luna.

Ei-la, a sacerdotisa secreta,
Ei-la Hécate, e Lilith,
Ei-la, coração de gelo no céu.

(...)


Ao redor legiões voam,
os arautos de Seth;
Sente o bater de suas asas,
e o frescor de seus corpos:
vá, voa com eles.

Invoca para ti seus poderes,
Conjura as sombras do mundo
abaixo; os ecos de poder e glória,
de força e desejo; de magia imortal.

Olha, então, teu negro cálice,
e eis que tua água é sangue,
essência da vida e da morte.

Beba, sedento por sabedoria,
Beba o desejo, beba o negror,
acorda a alma no frio noturno
e os demônios comungarão...


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Wednesday, June 13, 2007

Do Livro do Abismo – Das Ambições Profundas





*********

Ergue a mão esquerda, aprendiz
e cobre a direita; sufoca a luz
e despertará para as trevas.

E nascerá, no profundo abismo
da tua alma: teu cemitério.
O cheiro das lajes carcomidas
te envolve; não pára, é aqui
que decidirás tua sorte.

Há estrelas que brilham, infantes,
que são as virtudes dos homens;
Sacrifica, às entranhas de Moloch
teus filhos de luz; tua carne e sangue.

Vê-te só, no caminho do túmulo;
Abriga tua vela dos vultos
e desce a pé, pelos degraus da morte.

A escuridão te chama, filho meu.
Clama teu corpo, que lhe pertence.
Na via esfumaçada, quais múmias
dúzias de seres de fracas mentes.

Estreitas, nos confins da Terra,
gama de estradas a se cruzar.
Suspeitas, a muitos levam
de muito longe a nenhum lugar.

Pois milhares rodopiam e caem, e desistem;
E muitos se sufocam, e retrocedem;
Outros se amedrontam, e são tragados.

Eis o caminho tenebroso,
a que teu pé te levará;
Abandona a esperança
e ouça o sangue te guiar.



*********

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Tuesday, January 23, 2007

Do Livro dos Mistérios – Do caos pulsante




*********

Ó, instruído, ouve atento,
não com ouvidos ou olhos,
tampouco com o coração, pois ele se engana;
ouve com o entendimento.

E, no início, era o caos;
e o caos era a maré, o fluir.
O mistério da vida,
o mistério da morte
sem quem o desvendasse:
todos pulsando na eternidade.

Então houve uma luz:
e se espalharam sombras dessa luz;
E novas luzes vieram, novas sombras.
E A luz era a ordem e a ordem, tradição.

E eis aí suprema lógica,
e a horrenda loucura humana:
a ordem.

A sombra, mago, é ilusão:
a luz cria a sombra;
Porém a escuridão do caos,
sob as estrelas virgens,
existia sem luz.

Os pecados dos homens
têm valor para a luz
e para a sombra;
O caos, no entanto, pulsa,
indiferente.

(...)

Nas luzes que se fundem
as sombras agregadas;
Os buracos da luz
são os faróis na treva.
E o caos, pulsa.

E os fracos abominam o caos,
e clamam a ordem.
A ordem que oprime, 

persegue, alienia e mata:
é que eles imploram a paz.

Ah, a paz, tão sublime,
sobre seu monte de caveiras;
Ah, a paz, tão radiante,
bebendo o sangue dos rebeldes;

E a paz vai e enforca
tua mente durante o sono
mas quem nota?
Há paz.
E o caos, pulsa, indiferente.

(...)

O mal e o bem lutam
sobre os palcos da história,
no teatro do caos,
que não reconhece suas máscaras;
E tira as máscaras, e nada resta,
além do caos, que pulsa.

O que entra na sombra da luz
é sombra, é ilusão;
O que entra na luz da sombra
é luz, é ilusão;
O que entra no caos, 
não é nada
apesar de ser tudo.

O caos é origem e fim,
Alfa e Ômega.
Nele não se entra,
pois sempre se esteve.
Aí está a iluminação.
Ouve, e entende.
Tu és um buda negro.

(...)

E no teatro do caos,
centenas de atores dançam,
espalhando suas luzes
e as sombras que com elas vêm;
Olhe as virtudes criadas,
irmãs do pecado.
Olhe a culpa, a redenção;
Olhe o choro e a alegria;
Olhe a ignorância e sabedoria;

e então não olhe mais...

Quereis fundir-se no caos?
Se afastar das luzes dos homens
das sombras dos homens?
Pular sem regresso para a escuridão?

Pois aos que a cegueira é luz,
a luz do caos é escuridão.
Mas pulsa...

A ordem não te livrará,
e te perseguirá, ó Rebelde,
e tudo que foge das suas garras
será morto ou despedaçado:
pois a ordem... é paz.

Ó fruto do caos,
vê nos dilemas humanos
seu próprio início e fim:
a vida pulsa profunda.

Nada escapa ao caos:
retorna ao escuro que te criou,

e não verá nada.
Não há luz.
Mas há o pulsar...


*********

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