Do Livro das Ilusões – Das Verdades do mundo

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Para aquele que busca;
Para aquele que questiona;
Para aquele que não se cansa
da solidão, da dor, das chamas...

O que aspira à Verdade
sempre a há de encontrar
pois ela vaga só, musa arisca
pelo escuro, a dançar.

Ó mago peregrino,
as verdades do mundo
são no fundo os entalhes
talhados por homens...

Os ditos sacros, as frases
belas; os ensinamentos
e as citações severas:
Eis a verdade do homem.

(...)

Que é a verdade, ó mago,
senão as justificativas dos homens
para valorizar seus atos?
Que é a mentira, senão a quebra
do belo caminho delineado
daqueles que comandam a mente?

Eis o crime, eis o segredo.
A mentira é verdade,
e a verdade, mentira.
A verdade é dos vencedores.
A verdade é dos fortes.

Queres a Verdade?
Desiste.
Cria tua própria verdade,
e ao menos não será hipócrita.

Pois é no profundo caos
que a Verdade dança,
sem olhos que possam vê-la;
tocada por mil mãos diversas
e fonte de conflito e morte.

(...)

As linhas da verdade, riscadas
pelos homens, se entrelaçam na História
e sussurram seus destinos;

Que é mais útil, ó filósofo,
é venerar a verdade alheia
ou apalpar a Verdade escura
e fabricar a própria?

Pois a Verdade é gigante.
A Verdade dança,
seus pés bailam no universo;
A Verdade é muito, muito grande.

Eis a hipocrisia:
Ali o homem que abraça a Verdade,
o sábio de manto elevado;
Não sabe ele que o que abraça
é a si mesmo?

(...)

Ao fim, tudo é ilusão
e correr atrás do vento;
Os deuses se esvaem no vento
e o vento leva a palha de fiéis.

O mundo é de escolhas,
é de verdades relativas
e de vencedores verdadeiros.

Vê, o mundo é de cegos
e de seguidores deles;
Descobre tua cegueira
e poderás ver as trevas.
Não há luz.

Há os que pregam a luz
Há os que a buscam
Há os que a veneram
e há os inteligentes...

(...)

Ó, ser da mente,
usa tua percepção elevada
e julgue os erros dos homens.
Ria da sua ingenuidade
e de sua malícia ignorante:
O homem é a ovelha do homem.

Mago negro, ó lobo de ovelhas,
do alto da montanha, vê o rebanho
que ignora sua condição, sua vida.
Segue o curso da vida, e mata.
Mas as ovelhas não abrem os olhos...

Renova o papel de lúcifer,
o mal compreendido,
traz a chama ao homem,
o fogo que reduz as verdades
a pó e cinzas, consome a morte
e transpira a essência da vida.

Ó, portador de chamas,
usa de tua vontade
usa de tua verdade
usa tua fome de ovelhas
e mente ao mundo.


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